Ela saiu com 14 anos do interior de Alagoas como uma
adolescente que queria ganhar a vida jogando futebol. Hoje, é a melhor do mundo
no que faz - e quer chegar ainda mais longe.
E é justamente quando questionada sobre sua relação com um
de seus principais ídolos no esporte que surgem os lampejos de timidez que se
mostrariam uma de suas marcas registradas. "Ainda não tive muito contato
com o Ronaldo", lamenta Marta, quase que se desculpando. "Chegamos a
nos encontrar na festa da Fifa na Suíça, quando fui eleita a melhor do mundo.
Mas como a gente não tem tanta intimidade, fiquei meio com vergonha,
acanhada."
Parece improvável que a mais celebrada atleta do esporte
mais popular do mundo ainda soe como a adolescente que deixou o sertão de
Alagoas há sete anos para tentar uma desacreditada carreira de jogadora de
futebol no Rio de Janeiro. Entretanto, contrariando a cartilha normalmente
seguida pelos boleiros, Marta não encara as perguntas de uma entrevista como um
ataque pessoal que deva ser respondido com frases evasivas e sem conteúdo.
Também não tem medo de falar o que pensa ou de parecer o que não é. A conversa
telefônica internacional soa surpreendentemente fluente, um alívio, ainda mais
porque não foi fácil chegar até Marta. Foram dois meses de negociações,
telefonemas internacionais, vários e-mails trocados com o assessor de imprensa,
incontáveis desencontros.
Aliás, parte dos obstáculos para a realização da entrevista
está diretamente conectada ao status conquistado pela jogadora nos últimos
meses, antes do Pan no Rio. Na primeira ligação que fiz para a Suécia, em
março, na hora combinada, ela não pôde atender por estar participando de um
evento beneficente, conforme explicou a amiga que cuidava de seu celular
naquele momento. Mais tarde naquela mesma noite, a própria jogadora fez questão
de explicar o motivo do cano: "Uma amiga brasileira que estuda aqui na
Suécia se juntou a outras duas garotas para arrecadar roupas usadas e
revendê-las. O dinheiro angariado foi destinado para entidades na África. Fui
lá mais para ajudar, dar uns autógrafos, fazer umas embaixadinhas e conceder
umas entrevistas".
Compromissos desse gênero se tornaram mais constantes depois
que Marta foi eleita a melhor jogadora de futebol do mundo pela Fifa, a
entidade que controla o futebol mundial, no final de 2006. Até então, o fluxo
de visitas a sua casa em Umeå, cidade de 80 mil habitantes a 600 km ao norte de
Estocolmo, era bem menor. A "legião brasileira" do time sueco é
composta por apenas duas jogadoras: a zagueira Elaine e ela própria. Visitas de
gente de fora, portanto, são sempre bem-vindas. Marta ainda convive com os
poucos brasileiros que moram na cidade. Seu programa de verão favorito é
passear pelo centro da cidade e tomar um café ou um sorvete.
Durante a conversa, fica evidente a necessidade de retornar
alguns anos no tempo, quando Marta ainda vivia na minúscula Dois Riachos, de
apenas 12 mil habitantes, para se compreender o porquê de seus esforços para
conservar sua privacidade intacta. A atacante não tem site pessoal e não
costuma ter sua imagem ligada a badalações. A mãe de Marta, Tereza, hoje
conhecida em todo o Brasil, se negou na época a conceder entrevista para falar
da filha ilustre. "Ah, já teve repórter ligando aqui antes. Prefiro não
falar. Tem um moço do Rio que faz essas coisas por ela", se desculpou, se
referindo ao assessor de imprensa Paulo Júlio Clement. As amigas de Marta em
Umeå também não quiseram conversa.
Filha de pais divorciados, Marta se acostumou a ver a
família passar por dificuldades. O irmão mais novo começou a trabalhar com 12
anos para ajudar a casa. Ainda criança, a coisa que Marta melhor fazia era
jogar futebol com os meninos...
Fonte:http://rollingstone.uol.com.br/edicao/11/marta-a-melhor-do-brasil#imagem0
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